domingo, 9 de novembro de 2008

PARTILHA


Partilhamos:
do mesmo mundo, hediondo
do mesmo século
hipotético
da mesma visão
ofuscada
da mesma supremacia
narcisista

Da mesma Ideologia, oportunista
da mesma amabilidade
hipócrita
da mesma Pátria
imolada
da mesma Flâmula
negra
da mesma fidúcia
insignificante

Da mesma irmandade, fragmentada
da mesma saúde
degenerada
da mesma sorte
dissipada

Da mesma bebida, amarga
da mesma fatalidade
inevitável
do mesmo pecado
a vida
da mesma sentença
a morte.

ÁFRICA

Mãe África
acolhe em suas
tetas magras
nas suas terras
áridas
aonde o Deus Sol
acolheu como morada

Homens negros
como a noite
a escuridão fragmentada
com os seus sorrisos
brancos que reluz

Aplaca todo sofrimento
incutido nos rostos
escaldados pelo Sol
aonde seus arcos
e suas flechas
não são párias
para o grande trovão
África
com seus
deuses, suas
crenças, berço
do candomblé.

AMOR

Retrato reverso
inverdade perfeita
ilusão sugestiva
insanidade adquirida

docilidade majestosa
incivilidade aflorada
desordem de pensamento
desamor

doação sem restrição
viver sem sentido
sucumbirá a dor

perdoar o imperdoável
matar
morrer.

DESTOIA

Rasguei o meu verbo
debulhei-me em palavras
cacarejei o meu canto
pulei a dança
bebi o vento
sorri o lamento

Me embriaguei de amor
esqueci o óbvio
anestesiei a dor
busquei a morte
amaldiçoei a sorte
estapiei a vida
distorci o certo

Explanei besteiras
denominei-me poeta
desrimei os versos
desencadeei ilusões
cremei a flor
retruquei ao vento

Dizimei os castelos
desenterrei a alma
apunhalei o tempo
quebrei as regras
me alimentei de vida.

CIRCO

Vem meninada
hoje é dia:
de ir ao circo
de dar gargalhada
de ver cambalhotas
de contar lorotas
de fazer palhaçada

De comer pipoca
de virar criança
de astiar a tenda
de gritar bem alto
de guardar as tristezas
de soltar balão

De colorir o mundo
de pular o muro
de distribuir alegria
de ouvir a banda
de fazer ciranda
de cantar a paz.

TREM

Lá vai o trem
func! func!
chem, em! em!
andando na
linha
soltando
fumaça
fazendo
arruaça
levando
esperança
deixando
saudades
passando
estações
rumando
para o norte
mas como é
bom!
viajar de
trem
nunca viajou
então vem
também.

DIAS

Eu vejo os dias
escorrendo entre os dedos
e me pergunto
neste trinta e cinco anos
porque nada Eu fiz?

Não trilhei a vida
e sim abocanhado por ela
os acontecimentos
foi me rodeando
como um redemoinho de ventos
transformando-se num tufão

De alma enegrecida
corpo esmorecido
e com as mazelas umedecidas
no azeite de oliva
trouxe-me a triste realidade
que a vida se esvai,
como um rio
que deságua no mar
pouco a pouco a cada dia
até não restar
nada, mais!

A DROGA DA VIDA

Eu vi!
a droga
da vida
vendida
despercebida
num balcão
de farmácia

Quer em drágeas
que é tomado
em doses diárias
engolidas com
água

Quer em líquido
com sabores
adversos
só tem de agitar
antes de usar

Ou quem sabe
em injeção
que age
direto
na corrente
sanguínea
só tem um
detalhe
a picada

MÚSICA ACS

C--------G
ACS eu sou
F---------------C
Verde é minha cor
F------------G7
Na minha bagagem
------C------------F
Esperança eu levo sempre
--------Dm
Com amor
------G----------------------C---C7
Oito horas por dia contigo estou
F-----------Em-----Am--Em
Ando entre becos e vielas
------F----------G7
Ruas e favelas se lá me espera
-----C
Eu vou
----F-------Dm
Pesar a sua filha
----F----------Dm
Visitar os hipertensos
----F----------G7---------------C
Uma palavra amiga eu sempre dou
---------F-----------Dm
Enceno peças, dou palestras
F---------Dm
Luto pela vida
----------F---------G7---------C---C7
Eu sou apenas um agente salvador
----------F---------G7---------C---C7
Eu sou apenas um agente salvador
----------F---------G7---------C---C7
Eu sou apenas um agente salvador
C
Na na nanana
G
Na na nanana
F---------Dm
Na na na na
G----------G7
Na na nanana